A Lei do "Homem a Pé": O Medo de Inovações Tecnológicas... e da Velocidade

História

Se você acha que o trânsito caótico e as leis de trânsito de hoje são complicados, prepare-se para um passeio no túnel do tempo! Imagine um mundo onde a ideia de um carro — um "veículo de metal e ferro", como diziam — era uma ameaça para a segurança pública. Pois é, no final do século XIX, as autoridades britânicas, em sua imensa sabedoria, decidiram que a melhor maneira de lidar com a novidade do automóvel não era, digamos, regulando sua velocidade ou controlando a emissão de poluentes. Não, não. O que eles acharam que era mais sensato era obrigar um ser humano a andar à frente do carro, balançando uma bandeira vermelha e gritando "Cuidado, aí vem o monstro de metal!"

A famosa "Lei da Bandeira Vermelha", parte das Locomotive Acts (ou Red Flag Acts, como ficaram conhecidas), foi criada em 1865, numa época em que os carros ainda eram mais uma curiosidade científica do que um meio de transporte. E qual era a razão para tanta precaução? Bom, o simples fato de que as pessoas achavam que a velocidade de um carro — que, em muitos casos, mal ultrapassava os 6 km/h — poderia ser uma ameaça para as carruagens puxadas por cavalos, além de causar danos irreparáveis ao bom e velho asfalto das estradas. E, claro, ninguém sabia o que fazer com essa máquina que parecia uma grande ameaça à ordem do universo.

A solução? Vamos lá, além de obrigar que o carro andasse a uma velocidade ridiculamente baixa, a lei também determinava que o veículo fosse precedido por um "homem a pé" — sim, essa era a designação oficial! Esse "valente" cidadão deveria andar pelo menos 60 metros à frente do carro, balançando uma bandeira vermelha. E, por via das dúvidas, ele também teria que parar o veículo caso um cavalo aparecesse na pista. Porque, afinal, nada diz "controle da tecnologia" como um homem com uma bandeira se colocando à frente de um motor a vapor.

Imaginou a cena? O pobre coitado lá na frente, tentando não ser atropelado pelo próprio meio de transporte, enquanto os motoristas tentavam entender por que estavam sendo tão bem vigiados. Sem falar nas quedas de dignidade, já que o carro tinha que parar toda vez que o "homem a pé" acenava. Ah, e se o motorista ousasse ultrapassar a velocidade de 6,4 km/h no campo ou 3,2 km/h na cidade, ele poderia ser multado em até £10 (o equivalente a uma fortuna na época). Para um carro que, no máximo, fazia 16 km/h, essa era uma boa maneira de assegurar que ninguém chegaria a lugar algum rapidamente.

Essa lei foi, na verdade, uma expressão pura do medo das inovações tecnológicas. O novo sempre causa apreensão, e quando você não entende muito bem o que está acontecendo, a reação mais natural é tentar colocar uma mão de ferro em tudo. A velocidade e a eficiência dos carros estavam em confronto direto com a visão de um mundo onde as carruagens e os cavalos ainda eram os reis da estrada. Para muitos, o automóvel era algo incompreensível, e o progresso parecia mais uma ameaça do que uma melhoria.

Felizmente, em 1896, a Locomotive Act foi revisada, permitindo que os carros andassem até 23 km/h, sem a necessidade do homem com a bandeira vermelha (um alívio para todos os envolvidos). Mas, cá entre nós, a ironia do "homem a pé" à frente do carro segue sendo uma metáfora perfeita para como a sociedade muitas vezes reage às inovações tecnológicas. Por um tempo, preferimos continuar com o nosso medinho e regulamentos absurdos, tentando controlar algo que, eventualmente, simplesmente ia passar por nós mais rápido do que poderíamos imaginar.

Hoje, o que nos resta é olhar para a Locomotive Act e sorrir da sua bizarrice. Mas vale lembrar: quem hoje não tem medo de algum novo avanço, seja na tecnologia ou na vida? E quem sabe, em um futuro distante, algo tão absurdo quanto a lei do "homem a pé" ainda será um exemplo de como as gerações passadas lidavam com o "incontrolável".


Ler mais:
https://www.legislation.gov.uk/ukpga/Vict/24-25/70
https://en.wikipedia.org/wiki/Locomotive_Acts


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