A nova classificação de fundos da ANBIMA e o que ela significa para o Investidor

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Nos últimos anos, a indústria de fundos de investimento evoluiu rapidamente, trazendo uma enorme variedade de produtos ao mercado. Essa diversidade é positiva, mas pode tornar difícil para investidores entenderem onde estão colocando seu dinheiro e como isso se alinha aos seus objetivos. Foi pensando nisso que a ANBIMA desenvolveu uma nova classificação de fundos, que promete facilitar decisões de investimento mais conscientes e maduras.

O que é a nova classificação de fundos?

A nova classificação agrupa os fundos de acordo com suas características, estratégias e riscos. Com isso, os investidores podem comparar fundos semelhantes entre si, entendendo melhor o que esperar em termos de desempenho e volatilidade. A categorização segue três níveis:

  1. Classes de Ativos – Definem a natureza do fundo: renda fixa, ações, multimercado ou cambial.
  2. Gestão e Riscos – Diferencia os fundos pela forma de gestão (ativa ou passiva) e os tipos de risco envolvidos.
  3. Estratégias de Investimento – Foca nas táticas específicas adotadas pelos gestores, como fundos setoriais, de small caps ou de alocação dinâmica.

O impacto dessa mudança para o investidor

Para o investidor leigo, essa padronização traz transparência e segurança. A decisão de onde investir deixa de ser um salto no escuro e passa a ser um processo guiado, onde cada etapa leva a uma escolha mais precisa e alinhada ao perfil de risco e objetivos pessoais. Por exemplo:

  • Objetivos de curto prazo: Se você quer juntar dinheiro para quitar um financiamento em um ou dois anos, fundos de renda fixa com baixa duração podem ser mais indicados, já que oferecem menor volatilidade.
  • Busca por crescimento a longo prazo: Quem deseja acumular patrimônio e aceita mais risco pode optar por fundos de ações, focados em empresas de crescimento ou setores específicos.

Como escolher o fundo ideal?

A nova classificação sugere que a escolha do fundo deve começar com perguntas básicas, como:

  • O que você pretende fazer com esse dinheiro?
  • Qual é o seu apetite ao risco?
  • Em quanto tempo precisará do valor investido?

Com base nas respostas, você pode começar pelo primeiro nível, selecionando a classe de ativo. Depois, passa ao segundo nível, onde avalia o tipo de gestão e risco que deseja assumir. Por fim, no terceiro nível, escolhe a estratégia mais alinhada aos seus objetivos.

Benefícios adicionais

Além de facilitar a escolha individual, essa classificação torna mais fácil comparar fundos com outros investimentos e benchmarks de mercado. Isso ajuda a entender se um fundo está performando bem ou se existem opções melhores.A nova classificação de fundos da ANBIMA foi desenvolvida com o objetivo de estruturar de forma mais clara a complexidade crescente da indústria de fundos de investimento. Essa padronização, baseada em três níveis hierárquicos — Classe de Ativos, Gestão e Riscos, e Estratégias de Investimento — impacta significativamente tanto a eficiência do mercado quanto o processo de alocação de recursos dos investidores.


1. Estrutura Hierárquica: Níveis de Classificação

Nível 1: Classes de Ativos

Esse nível agrupa os fundos de acordo com a natureza dos ativos subjacentes:

  • Renda Fixa: Fundos que investem predominantemente em instrumentos de dívida.
  • Ações: Fundos com pelo menos 67% da carteira em ativos de renda variável.
  • Multimercado: Fundos com políticas de investimento que envolvem múltiplos fatores de risco.
  • Cambial: Fundos que aplicam majoritariamente em ativos ligados a moedas estrangeiras.

Impacto:
Essa segmentação inicial permite que o investidor compreenda o perfil básico de risco e retorno esperado. Fundos de renda fixa apresentam menor volatilidade, enquanto fundos de ações e multimercado tendem a ser mais voláteis, com potencial de retorno maior no longo prazo.

Nível 2: Gestão e Riscos

Neste nível, a classificação leva em conta:

  • Tipo de Gestão: Passiva (indexada) ou ativa.
  • Sensibilidade ao Risco: Nos fundos de renda fixa, por exemplo, a duration média ponderada é utilizada para medir a exposição ao risco de juros.

Exemplo:
Nos fundos de renda fixa ativos, há subdivisões com base na duration:

  • Baixa Duration (< 21 dias úteis): Menor exposição à variação das taxas de juros.
  • Média Duration (≤ IRF-M): Oscilações moderadas conforme o índice de referência de mercado.
  • Alta Duration (≥ IMA-Geral): Alta sensibilidade às mudanças nas taxas de juros, tornando-os mais voláteis.
Nível 3: Estratégias de Investimento

Esse nível detalha a estratégia adotada pelo fundo, podendo incluir:

  • Fundos Soberanos: Investem 100% em títulos públicos federais.
  • Fundos de Dividendos: Focam em ações de empresas que pagam dividendos recorrentes.
  • Fundos Long and Short: Executam estratégias com posições compradas e vendidas em ativos.

Impacto na análise de performance:
Esse nível é crucial para permitir comparações adequadas entre fundos com estratégias semelhantes. Fundos que adotam estratégias distintas dentro da mesma classe de ativos podem apresentar perfis de retorno e volatilidade muito diferentes. Dessa forma, separar estratégias de investimento melhora a precisão na análise de rentabilidade ajustada ao risco.


2. Transparência e Monitoramento do Mercado

A segmentação por níveis permite uma maior transparência ao mercado, facilitando a criação de benchmarks mais robustos e a mensuração da performance relativa dos fundos. A ANBIMA pode construir índices de referência mais específicos para cada segmento, melhorando a capacidade de monitoramento da indústria.

Além disso, investidores institucionais, como fundos de pensão e seguradoras, podem utilizar essa classificação para refinar suas estratégias de alocação tática e estratégica. A segmentação detalhada contribui para uma melhor definição de políticas de investimento e restrições de risco.


3. Benefícios da Nova Classificação no Processo de Alocação

  • Aprimoramento da Due Diligence: A classificação detalhada facilita o processo de seleção de fundos ao permitir uma análise mais precisa da estratégia de investimento e do perfil de risco.
  • Gestão de Portfólio: A padronização contribui para que gestores de portfólios consigam construir carteiras mais equilibradas, ajustando a exposição ao risco conforme os objetivos de retorno.
  • Análise Quantitativa: Com a nova estrutura, torna-se possível desenvolver modelos quantitativos de seleção e monitoramento de fundos, que incorporem variáveis como duration, volatilidade e correlação com benchmarks.

4. Riscos e Desafios

Embora a nova classificação traga diversos benefícios, existem desafios a serem enfrentados:

  • Complexidade para Investidores Leigos: Apesar de a hierarquia ajudar na compreensão, a quantidade de informações pode dificultar a tomada de decisão por investidores sem conhecimento técnico.
  • Risco de Clusterização: A padronização pode levar à concentração excessiva em determinados tipos de fundos, especialmente aqueles com melhor performance histórica, aumentando riscos sistêmicos.

A nova classificação de fundos da ANBIMA é um avanço importante para a indústria de investimentos no Brasil, pois melhora a clareza na comunicação com investidores, aprimora o processo de alocação de recursos e facilita a análise de performance ajustada ao risco. No entanto, para que seu potencial seja plenamente realizado, é essencial que investidores, gestores e distribuidores recebam educação financeira adequada sobre como interpretar e utilizar essa classificação de forma eficaz.


ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS ENTIDADES DOS MERCADOS FINANCEIRO E DE CAPITAIS – ANBIMA. Cartilha da Nova Classificação de Fundos. Rio de Janeiro, São Paulo: ANBIMA, 2025. Disponível em: <www.classificacaodefundos.com.br>. Acesso em: 03 jan. 2025


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